Saudosismo: Internet romantiza desempenho de Pentium II
Será mesmo que, até meados dos anos 2000, vivíamos num mundo com programas abrindo instantaneamente? Tem gente achando que sim!
No finalzinho de maio, uma pequena polêmica eclodiu no X (antigo Twitter): a ideia de uma computação mais veloz e objetiva, alimentada por um vídeo lacônico, que exibia o Microsoft PowerPoint num notebook supostamente equipado com um processador Intel Pentium II.
Pela minha experiência, eu suspeito que o Microsoft PowerPoint, invocado a partir do diálogo “Executar” do Windows (menu “Iniciar” → “Executar…” ou combinação de teclas Super + R), já havia sido testado nos minutos anteriores e, consequentemente, residia na memória em cache.
Um aspecto curioso dos comentários, para além da flagrante inexperiência ou saudosismo romântico de alguns, envolvia certa dicotomia, numa espécie de instantâneo × insuportavelmente lento. Ora, diferentes sistemas operacionais continuam desfrutando de programas robustos e armazenados localmente num disco rígido ou unidade de estado sólido. Mesmo considerando alguma sobrecarga pelo acréscimo de funcionalidades e verificações envolvendo servidores remotos via Internet, os tempos de inicialização não me parecem dos piores.
É totalmente possível boicotar uma série de aplicativos oferecidos no modelo de SaaS (software como serviço, em tradução livre para o português) e reforçar a utilização de soluções locais. No caso de software livre/de código aberto, eu diria que muitos dos programas continuam preservando uma arquitetura enxuta, com pacotes para Linux tendo menos de 50 MB após a instalação.
Até dois ou três anos atrás, eu ainda utilizava um ThinkPad X200 como meu principal computador portátil. Dotado de um processador Intel Core 2 Duo e meros 4 GB de memória, a necessidade de fugir de ferramentas dependentes de navegadores e código em JavaScript era, acima de tudo, uma regra, sob pena de condenar gravemente a realização de múltiplas tarefas e o desempenho da máquina totalmente.
Em outras palavras, do lado de cá da cerca, no universo dos sistemas operacionais baseados em Linux ou BSD, é trivial possuir um conjunto sólido de ferramentas que nada depende de uma conexão à Internet, e muito menos de abundância de recursos computacionais. O resultado, é claro, não poderia a ser outro: mesmo quando o armazenamento é mecanizado, como discos rígidos, os programas são abertos em poucos segundos.
Não cabe, porém, romantizar o passado: assim como hoje, configurações domésticas ou voltadas a pequenos escritórios, não envolviam processadores poderosos e latifúndios de memória RAM. Meu PowerMac 9600/300 não abria o software de sua época instantaneamente, mesmo contando com muita memória. Rodar a última versão do Photoshop compatível com o Mac OS 9.x exigia, sim, um mínimo de paciência. Coincidentemente, o processador PowerPC 604e do PowerMac 9600/300 era enxergado como um belo concorrente ao Pentium II.
Recentemente, adquiri um tablet com tela de 5,5 polegadas, equipado com um modesto processador Intel Celeron N9095, que precisa ser mantido no modo mais econômico para não superaquecer. Executando experimentalmente o Fedora Silverblue, o equipamento exibe tempos de carregamento extremamente satisfatórios. Os 16 GB de RAM, é claro, auxiliam em termos de cache e prevenção à paginação excessiva (quando o armazenamento é utilizado como área de permuta ou memória virtual, recebendo páginas da memória com menor probabilidade de requisição), mas não são fundamentais. A máquina seria igualmente rápida com 8 GB de RAM.
Finalizo com uma sugestão: se você está insatisfeito com o desempenho do seu computador, não adianta romantizar o passado. Sofríamos bastante e o custo por megabyte, principalmente de pentes de memória, era bastante proibitivo. A utilização de um sistema baseado em Linux, com uma boa curadoria na seleção de pacotes, pode entregar ferramentas enxutas e com abertura quase instantânea.