Grandes aplicativos de produtividade do passado: Borland Sidekick
Nos dias de hoje, programas sofisticados de organização pessoal caíram em desuso, sendo substituídos por calendários como o do Google, que sincroniza entre múltiplos dispositivos, mas não chega no dedão do pé esquerdo do que havia no passado
Estava assistindo um vídeo do Adrian’s Digital Basement e acabei inicializando um PC Packard Bell emulado via PCem. Acabei abrindo o Windows 3.11 for Workgroups e vi os aplicativos que instalei em algum momento. Um deles foi o Borland Sidekick, sobre o qual quero comentar a seguir.
Eu instalei o Sidekick porque um de seus principais concorrentes, Lotus Organizer, é afetado pelo famoso “bug dos anos 2000” na versão mais recente para Windows 3.1x, ou seja, não consegue interpretar anos pós-1999. Na verdade, a máquina emulada também tem um BIOS que não consegue, mas um “patcher” (R-Y2KFIX.EXE
, parte do “The Rosenthal Utilities”, baixável aqui) é executado na inicialização, via AUTOEXEC.BAT
.
Uma coisa que me agrada nesses programas de gerenciamento de informações pessoais (PIM) do passado é que são instantâneos, integrados e facilitam a separação de múltiplas vidas, como de pessoas distintas, ou contextos distintos (pessoal/profissional/acadêmica).
De cara, o visual lembra uma agenda, o que eu acho muito agradável. O conjunto de funcionalidades tende a ser rico e há atalhos numa “inovação” incrível, chamada “barra de ferramentas”, que desaprendemos a usar, graças ao uso excessivo de navegadores e escolhas questionáveis de desenho.
O calendário do Borland Sidekick suporta múltiplas visualizações e, mesmo rodando numa resolução baixa, consegue mostrar o mês anterior e o mês atual na visão semanal. Como dezembro é o mês natalino, o programa decora o topo do calendário. Outras decorações se aplicam para outros meses.
A funcionalidade de agenda telefônica é linda. As fichas parecem… fichas. Alternar entre elas resulta numa animação simples. Um Cx486 (um falso 486, na verdade, um 386 de alta frequência) conseguia rodar isso com um pé nas costas. Ah, e as fichas estão conectadas com o resto.
No caso do Sidekick, é possível programar tudo e depois usar um “Contact Manager” para ter uma visão geral. Se for preciso ligar/falar com a pessoa, é possível acionar um botão, fazer anotações e cronometrar. Você acha que é super eficiente porque pode gastar 2 horas numa videochamada do Google Meet? Pfff!
Ou seja, com facilidade, o programa cria um histórico do cotidiano. Falou com Fulano e esqueceu? Beleza, é só acessar o Contact Manager depois da chamada e, com base nas anotações feitas dias, semanas ou meses atrás, ter todo um contexto para não perder tempo ou passar vergonha.
E como todo programa decente, você consegue personalizar ou editar eventos no passado. Por exemplo, o Sidekick conseguia dar conta de ambientes com sistemas de correio eletrônico, comunicação via SMS, etc., porque permitia personalizar os status (situações) das chamadas.
Eu lamento não ter nada no Linux parecido com esses programas do passado. Muita coisa se perdeu ou foi empobrecida. E ninguém reescreveu. Eu tenho um programa de gerenciamento de informações aqui, chamado Osmo, mas não se compara ao Sidekick. Uso apenas para calendário e notas.
Infelizmente, o Osmo também está abandonado. O último desenvolvedor parece ter largado o programa.
Muito antes do Notion, tivemos ainda sistemas brutais para aglutinar e gerenciar informações, além de agenda/calendário/anotações simples. O Corel InfoCentral, por exemplo, tentava uma espécie de orientação para objetos. Na captura de tela a seguir, ele está rodando no NT 3.51.