Mastodon, seu novo microblogue federado

Com a compra do Twitter pelo infame Elão Musgo, um novo fluxo de debandada em busca de novos horizontes foi iniciado e, mais uma vez, o Mastodon parece ser um dos principais destinos. Nesta publicação, falarei um pouco sobre o projeto e darei algumas dicas para tornar sua utilização mais proveitosa


Enquanto o milionário mimado e excêntrico demite empregados e faz gracejos, parte da comunidade de pessoas usuárias do Twitter decidiu (acertadamente) buscar novos horizontes. Desde que a possibilidade da compra foi anunciada, há alguns meses, já vivemos pelo menos uma onda migratória relevante.

Eis então o Mastodon, que entra em cena como um possível candidato perfeito para quem já está familiarizado com o Twitter, mas gostaria de viver livre dos interesses comerciais de uma única empresa, principalmente quando ela é vendida e passa a ser presidida por um idiota endinheirado.

Assim como o Twitter, o Mastodon nada mais é do que um microblogue, ou seja, um serviço no qual você pode fazer pequenas publicações, geralmente relacionadas às atividades cotidianas que você ou outra pessoa desempenha, opcionalmente incluindo imagens, vídeos ou hiperligações.

A principal diferença é que o Mastodon é um software de código aberto, cujo desenvolvimento se dá comunitariamente e em “praça pública”, aos olhos de qualquer pessoa interessada. Outra vantagem é que, mesmo que você não deseje auditar ou propor modificações, caso possua a capacidade e/ou recursos, há a possibilidade de executar uma instância por contra própria. Na prática, o serviço funciona como uma federação de instâncias autônomas, que possuem suas próprias regras e responsáveis pela administração. Há quem utilize o termo fediverso, inclusive.

Infelizmente, a estruturada federada é, ao mesmo tempo, uma delícia e um terror. É maravilhoso gozar de autonomia, descentralizando a hospedagem e o controle, porém, o mesmo não pode ser dito da complexidade adicional que surge em decorrência dela. Para fazer parte do Mastodon, é preciso encontrar uma instância que acolha você e, em momentos de pressão migratória, é possível que as fronteiras sejam fechadas como uma forma de contenção de custos, tanto de hospedagem, quanto de moderação.

Para encontrar uma instância, você pode utilizar a lista oficial ou um site como o Mastodon Instances, que retornará uma lista filtrável com base em algumas preferências. No momento, algumas instâncias promissoras são:

Das várias instâncias que já visitei, a obo.sh, parece ter sido a mais relaxada em termos de moderação. Por exemplo, a primeira instância que na qual criei uma conta mstdn.io, e cujas inscrições estavam fechadas (talvez para sempre) quando este artigo foi originalmente elaborado em novembro de 2022, bloqueia instâncias que publicam pornografia e não tolera discursos de ódio, mesmo que eles não necessariamente sejam ilegais. Tanto a conversafiada.net quanto a ursal.zone parecem estar à esquerda, o que pode agradar refugiados progressistas que temem que o Twitter se transforme num novo Gab ou Gettr, porém, pode ser preciso justificar o pedido de criação de conta, o que significa que a aprovação provavelmente será feita manualmente (podendo ou não demorar bastante).

O cadastro é autoexplicativo. Acesse uma instância e procure o pequeno formulário para realização do cadastro na porção superior esquerda da página. Se a instância estiver fechada, uma mensagem será exibida e/ou os campos estão desabilitados.

/images/posts/mstdnio_fechado.png
Aspecto da página inicial da instância mstdn.io após o fechamento das inscrições

Assim como o Twitter, o Mastodon pode ser utilizado convenientemente num telefone inteligente, possuindo clientes oficiais para iOS e Android. Para quem, como eu, utiliza Linux, dois clientes interessantes são o Hyperspace (descontinuado) e o Whalebird (também disponíveis para Windows e macOS). Na captura de tela a seguir, você pode ver as versões distribuídas como AppImage do Hyperspace e do Whalebird em execução.

/images/posts/2022-11-06_13-27.png
Hyperspace (à esquerda) e Whalebird (à direita) rodando no openSUSE Leap 15.3

Para quem preferia um visual inspirado no Google Chrome, o Hyperspace provavelmente era a melhor pedida. Particularmente, eu tenho preferido e gostado mais do Whalebird. Para Android, recomendo o Moshidon, já no iOS, o Ice Cubes é uma excelente pedida.

Observe ainda que cada instância possui sua própria linha do tempo de publicações. No jargão do Mastodon, ela é chamada de “linha local”, entretanto, é possível navegar na “linha global”, que exibe publicações em todas as instâncias da federação. A linha global poderá apresentar menos ou mais resultados, pois como expliquei anteriormente, alguns administradores bloqueiam intâncias com conteúdo pornográfico ou discursos de ódio.

Dica: a depender de como você interage com a federação, será possível monitorar e/ou interagir com linhas locais de outras instâncias. Você sabia que tanto o Moshidon (veja explicações em português) quanto o Ice Cubes permitem adicionar linhas locais de outras instâncias? Adicione press.coop para notícias internacionais e fosstodon.org para assuntos ligados ao universo do software livre/de código aberto.

/images/posts/Screenshot_20240906_215052_Moshidon.jpg
Lagrange (à esquerda) e Moshidon (à direita) rodando no Android 14. Gemini e Mastodon lado a lado

Como existem duas linhas do tempo em cada instância Mastodon, o emprego de palavras-chaves com hashtags é primordial caso queira que suas publicações sejam descobertas por pessoas de outras instâncias.

Até o momento, o Mastodon não ganhou tanta tração quanto eu gostaria. É uma rede relativamente fácil de ser utilizada, mas que ainda parece muito vazia, ou, no máximo, com um conteúdo mediano voltado à tecnologia da informação.

Vivemos um momento delicado na Web, tanto pela produção acelerada de desinformação, quanto pela dependência tóxica de um punhado de plataformas (nomeadamente Twitter, Instagram, Facebook e TikTok). Para quem, como eu, busca produzir conteúdo de qualidade, a consolidação de redes como a do projeto Mastodon pode significar a abertura de novas portas para divulgar conteúdo, afinal, ninguém gosta de falar para as paredes ou de pagar para trabalhar impulsionando publicações no Facebook e no Instagram.

Caso queira me seguir (ou apenas xeretar), meu perfil pode ser acessado clicando aqui ou buscado como @[email protected]. Admito que não tenho publicado muito por lá, mas com mais pessoas chegando, quem sabe eu não me anime?