Centro de São Paulo, Pinacoteca e outros pensamentos


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Vale do Anhangabaú e a Praça Ramos de Azevedo

Outro dia fui ao Centro Velho de São Paulo com uma amiga, para ela, a ideia era bem simples: visitar a Pinacoteca, para mim, que admiro a região, a Pinacoteca era um mero pretexto para bater perna depois.

Para quem não sabe, a Pinacoteca recebeu as famosas esculturas de Ron Mueck e, pelo que o titio Google me ajudou a descobrir, ficarão por lá até fevereiro, ou seja, vale a pena dar um pulo, fazendo um passeio cultural por uma região da cidade que é cheia de história.

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MAM

Já havia visto as obras no Rio de Janeiro, pois ficaram expostas no MAM, que é um espaço maravilhoso, com a vantagem de estar junto ao Aterro do Flamengo, porém como as esculturas na Pinacoteca ficaram dispostas em salas, a exposição acabou sendo mais organizada e silenciosa, o que acabou contribuindo para criar uma sensação de tranquilidade. Para ser justo, apenas uma peça ficou exposta num ambiente aberto do edifício.


Depois da Pinacoteca aproveitei para dar uma volta no Centro. A ideia era visitar a Avenida São Luís, então caminhamos pela Avenida Ipiranga, indo até a República, saindo depois na simpática Praça Dom José Gaspar. A sexta-feira já se fazia presente no local e o happy hour estava começando para alguns. A São Luís é uma avenida um pouco diferente da Ipiranga ou da São João, ela é curtinha (não tem nem 500 metros), tem calçadas largas e arborizadas e reúne edifícios residenciais, além de comércio e serviços. Atualmente é possível dizer que a São Luís não tem traços de degradação.

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Praça Dom José Gaspar

Praça simpática, não? Pelas placas, ela agora conta com wi-fi, mas não testei.


Nessas horas fico pensando sobre os melhores locais para morar no Centro e como recuperar as áreas que apresentam traços mais fortes de degradação ou problemas sociais de cunho mais complexo, como o entorno da Estação Júlio Prestes. Algumas pessoas podem começar a pensar no Nova Luz enquanto leem, mas o Nova Luz parece ter sido um (e por parte da gestão de Gilberto Kassab não foi o único) exemplo do que não fazer. Tentando recordar de maneira breve, a questão da desapropriação de imóveis pelo poder privado com total anuência do poder público causou um certo temor na região, principalmente pelos comerciantes de eletrônicos e afins na Sta. Ifigênia. Em 2005, 2006, a ideia, segundo a prefeitura, era aproveitar para renovar derrubando imóveis irrecuperáveis, e claro, garantindo participação da sociedade no processo. Usando a Wayback Machine, desenterrei o seguinte fragmento:

O projeto em execução pretende criar uma região exemplar, nova e arrojada, que enquanto cria novas opções de moradia e novos equipamentos públicos, preserva o patrimônio arquitetônico existente, respeita e estimula a vocação econômica da região, a exemplo da Rua Santa Efigênia, e abre horizontes para novos segmentos. A longo prazo a Nova Luz deve envolver a área entre a Avenida do Estado, onde hoje está instalada a sede da Subprefeitura da Sé e Secretaria Municipal de Serviços e o Bom Retiro.

A primeira fase prevê intervenções em 23 quadras. As desapropriações vão se restringir a imóveis irrecuperáveis e áreas destinadas a instalação de equipamentos públicos. As sedes da Subprefeitura e a Secretaria de Serviços, por exemplo, serão transferidas para uma nova área e o espaço que ocupam hoje dará lugar a um novo parque.

Lendo o texto da prefeitura da época, parece maravilhoso, não é mesmo? Ainda consideraram abranger a Avenida do Estado, perfeito! Mas… a tensão social se fez presente, como podemos evidenciar numa matéria do G1:

A Defensoria Pública, responsável pela ação que culminou na nova decisão, afirma que a legislação não foi respeitada quando a prefeitura não fez um levantamento de pessoas que moram na região e que podem ser afetadas pelo projeto, em especial pelas desapropriações. A Defensoria disse ainda que o conselho gestor que foi formado para discutir a proposta e que por lei deve ter a presença dos moradores não seguiu todas as regras previstas.

Se alguém estiver interessado em voltar um pouco no tempo, tentando compreender o que levou ao acionamento da Defensoria Pública, aqui vai um vídeo:

Pessoalmente, considero a região da Luz uma das mais tentadoras em todo o Centro. Se alguém me perguntasse qual a área do Centro Velho com maior potencial, responderia que é a Luz, sem titubear. Na Luz temos o acesso ao corredor da SPTrans Inajar de Souza-Rio Branco-Centro, terminal de ônibus Princesa Isabel da SPTrans, linhas 1-Azul e 4-Amarela do Metrô, 7-Rubi e 11-Coral da CPTM, além das outras linhas de ônibus, dos equipamentos culturais públicos (Museu da Língua Portuguesa, Pinacoteca, Estação Pinacoteca e Sala São Paulo), do comércio (até uma pequena unidade do mercado Dia foi inaugurada) e, claro, do acesso a pé a outras áreas, incluindo o Vale do Anhangabaú, República e Bom Retiro.

Termino aqui. Gostaria que houvesse um aproveitamento (levando em conta a matéria do G1) daquilo que for aproveitável, com o início de uma nova operação para a região, porém, seguindo os moldes do Centro Diálogo Aberto, São Paulo Aberta, Programa de Metas e outros instrumentos da prefeitura atual, que revelam o desejo de uma participação maior. Talvez demorasse um pouco mais, talvez não criasse a renovação drástica que alguns desejam, mas poderia ser extremamente benéfico.